28 de Novembro de 2021
Jer 33, 14-16; Sal 24 (25); 1 Tes 3,12–4, 2; Lc 21, 25-28. 34-36
Nos últimos dias, fomos surpreendidos com uma insultuosa recomendação de um membro do governo que sugeria aos profissionais da saúde maior “resiliência”. É sempre fácil “receitar resiliência” a quem se encontra no terreno a partir de um gabinete ou conferência de imprensa... Neste momento em que, pelo terceiro ano consecutivo, parece que viveremos um novo Advento e Natal com a sombra de uma nova variante do covid19, aquilo que mais precisamos é de quem nos ajude a levantar a cabeça, não a baixá-la.
O trecho evangélico deste Domingo é surpreendente e provocou as reacções mais estranhas ao longo dos séculos. Por causa desta pregação apocalíptica de Jesus, muitos milhares de cristãos convenceram-se que o fim do fundo estava ao virar da esquina. Obviamente, enganaram-se. Ou melhor, acertaram em que era o fim “de um mundo”, não “do mundo”. Só no século passado e bem perto de nós, o fim do mundo foi agendado para 1914, 1941 e 1975 (testemunhas de Jeová, e outros) e foram numerosos os suicídios em massa (sobretudo nos USA) perto do ano 2000. Os discursos escatológicos (isto é, sobre as “últimas realidades” ou tempos) de Jesus têm vários níveis de leitura. Em primeiro lugar, Jesus falava do carácter frágil e transitório de toda vida humana: a morte individual (Mt 25,13-30). Em segundo lugar, aludia à iminente destruição de Jerusalém e do Templo, ressalvando que “ainda não será o fim (Mc 13,1-7). Finalmente, Jesus referia-se ao seu regresso no fim dos tempos, a propósito do qual “só o Pai conhece o dia e a hora” (Mc 13,32). Na sua forma actual, estes discursos e estes níveis encontram-se misturados nos evangelhos e, por isso, podem provocar ansiedade e consternação e propiciar interpretações erróneas.
Não é por acaso que o texto mais antigo do Novo Testamento e anterior aos mesmos evangelhos – a primeira carta aos Tessalonicenses – lidava já com estas questões. São Paulo sentiu a necessidade de exortar os crentes a não baixar os braços porque nem o regresso de Jesus era iminente nem o desânimo ou a preguiça eram atitudes condizentes com a expectativa. Por isso, escreve “o Senhor vos faça crescer e abundar na caridade fraterna... deveis progredir ainda mais”. Só desta forma o Senhor vos confirmará “numa santidade irrepreensível no dia da vinda de Jesus, Nosso Senhor, com todos os santos” (3,12).
Jesus inaugurou o Reino de Deus com a Sua Vida e Palavra, com a Sua morte e ressurreição. Mas não o consumou. O Reino está ainda em construção e, enquanto vemos sinais da Sua Presença em tantas vidas e realidades deste mundo, um olhar sincero e pragmático também nos assegura que o cumprimento das profecias está ainda longe de se ter realizado. Curiosamente, no evangelho de hoje foram retirados dois versículos com a parábola da figueira (Lc 21,29-30) nos quais Jesus afirma que “quando começa a deitar rebentos, sabeis que o verão está próximo”. Um desses rebentos, conforme aparece na primeira leitura (Jer 33,16) é o exercício da justiça sobre a terra. Nesses dias, Jerusalém será chamada “O Senhor é a nossa justiça” (Jer 33,16), isto é, será um lugar de equidade e paz. Se assim deve ser, então, falta ainda muito para a Parusia (manifestação gloriosa) de Cristo.
Entretanto, como filhos de Deus, vivemos numa esperança criativa e audaz e não baixamos os braços. Ao anunciar cataclismos, Jesus não convida ao pavor. Pelo contrário, encoraja e exorta dizendo: “erguei-vos e levantai a cabeça, porque a vossa libertação está próxima”. Mas adverte “tende cuidado para que os vossos corações não se tornem pesados pela intemperança, a embriaguez e as preocupações”.
Ao aproximar-se a celebração do Natal, no meio dos desafios e riscos do nosso tempo, com o olhar fixo em Jesus, levantemos a cabeça e avancemos com coragem e determinação. Vivamos cada dia com gratidão e entusiasmo. E ouçamos as palavras de Cristo: “Tende coragem, eu venci o mundo” (Jo 16,33).
P. Pablo Lima
Olá.
ResponderEliminarObrigada pela partilha.
Bjs
Helena