12 de Abril de 2020
Act 10, 34a. 37-43; Sal 117 (118);
Col 3, 1-4; Jo 20, 1-9 ou Mt 29,1-10
O evangelho do passado Domingo de Ramos concluía (Mt
27,62-66) com os guardas colocados por Pilatos a guardar o sepulcro, a pedido
dos príncipes dos sacerdotes e dos fariseus. É um gesto de profunda ironia.
Tinham medo que os discípulos fossem roubar o corpo e dissessem que tinha
ressuscitado; e concluíram a sua justificação diante de Pilatos, dizendo:
“seria a última impostura pior do que a primeira”. Alguns versículos mais à
frente (28, 11-15), Mateus explica-nos que foram esses mesmos chefes que
subornaram os soldados para espalhar a mentira do roubo do cadáver, quando eles
lhes contaram a aparição do Anjo e o tremor junto ao túmulo. Mais do que da violação
do sepulcro, os sacerdotes tinham medo de Jesus Ressuscitado. Mas não há pedras
de mármore, isolamento social ou quarentena, guardas ou mentiras que sufoquem a
Páscoa de Jesus.
Inconscientemente, também os
discípulos tinham medo duma tal profanação. De facto, quando Maria Madalena vai
ter com Pedro e João, diz-lhes que “levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos
onde O puseram” (Jo 20,2). João e Pedro foram a correr. João, porque mais
jovem, chegou primeiro; mas Pedro, porque mais velho, entrou em primeiro lugar.
Pedro não acreditou; João, viu e acreditou. Mas não deve ter dito nada, porque
diz São João (no versículo 10, que não consta do leccionário) que voltaram para
casa, enquanto Maria ficou por lá a chorar.
Ainda hoje é difícil acreditar nesta
que é a maior notícia da história e que mudou, para sempre, a vida da
humanidade. A vitória de Jesus foi a força dos apóstolos e a seiva que
alimentou e alimenta os ramos da videira de que faz parte a Igreja. A
ressurreição é uma realidade in fieri, em processo. Jesus, Ressuscitado
para sempre, continua a ressuscitar no coração de cada crente que a Ele adere,
que O confessa e d’Ele recebe o perdão dos pecados. Jesus Ressuscitado para
sempre, continua a ressuscitar aí onde uma mãe e um pai morrem quotidianamente
para dar vida aos filhos, onde os profissionais de saúde e de segurança
sacrificam a sua saúde e a sua segurança para dar vida aos cidadãos, onde uma
povoação, um país, um continente, a humanidade inteira se une para lutar contra
um inimigo invisível, porém nefasto.
Felizmente, há Páscoa! Felizmente, o
sepulcro não ficou às escuras. Felizmente, a Luz entrou e de lá se difundiu aos
quatro cantos da terra onde ainda hoje chega, ofuscante, libertadora. Não
cantam os coros a quatro vozes, não se ouvem campainhas pelas estradas; mas os
nossos corações cantam – melhor, gritam! – Aleluia! Cristo está vivo! Façamos
festa! Abracemo-nos em casa, no amor de Cristo Ressuscitado! Não tenhamos medo!
“Cristo ressuscitou como primícias dos que morreram” (1 Cor 15,20). Mais do que
nunca, ressoa hoje a palavra de São Paulo: “afeiçoai-vos às coisas do Alto,
onde está Cristo, à direita de Deus” (Col 3,1). E de lá, olha por cada um de
nós! Aleluia!
P. Pablo Lima
In Notícias de Viana (1933), 08 de Abril
de 2020, p. 7.
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