24 de
Maio de 2020
Act 1, 1-11; Sal 46 (47); Ef 1, 17-23; Mt 28,
16-20
A Transfiguração, Rafaello Sanzio, 1518-1520, Pinacoteca Vaticana, óleo sobre tela 405x278cm
Em Portugal, celebramos a
Ascensão do Senhor ao Domingo porque o dia próprio (a quinta-feira da sexta
semana) não é feriado. Noutras países, como a Itália, França (a laicíssima
França tem mais feriados religiosos do que o catolicissímo Portugal), Alemanha,
Bélgica, Áustria, etc. No nosso país, é feriado municipal em vários concelhos,
sobretudo do centro e sul: Alter do Chão (Portalegre), Alvito (Beja), Anadia
(Aveiro), Ansião (Leiria), Alcanena, Almeirim, Cartaxo, Golega, Chamusca
(Santarém), Estremoz (Évora), Alenquer, Azambuja (Lisboa), etc. Na nossa
diocese, em anos normais, a quinta-feira da Ascensão marcaria o início da Festa
de Nossa Senhora do Castelo, com a procissão nocturna que antecede a caminhada
ao Monte, no Domingo.
Durante os vários discursos do
adeus que se encontram sobretudo na Última Ceia (Jo 13-17) e dos quais lemos um
trecho no Domingo passado, Jesus foi preparando os apóstolos (e todos nós) para
esta nova fase da comunidade cristã. Jesus está connosco, mas não está. Foi
embora, mas não foi. Isto é, visível e sensivelmente Jesus não está no nosso
meio, senão através dos sinais litúrgicos e da presença sacramental (inclusive
e sobretudo o sacramento do irmão necessitado, o “oitavo sacramento”). Por
isso, não podemos ficar a olhar para o céu, como branda mas firmemente increpam
os anjos, os “dois homens vestidos de branco”: “Homens da Galileia, porque
estais a olhar…?”. Chamam-lhes “homens da Galileia”. Não se trata apenas de uma
indicação de proveniência geográfica ou sociológica. “Homens da Galileia” são
os amigos do “Galileu” (Mt 26,29); portanto, aqueles que devem
comportar-se conforme aquilo que com Ele aprenderam na Galileia. Aliás, Jesus
tinha-lhes ordenado voltar para a Galileia, como o início do Evangelho tão bem
refere no seu incipit deste Domingo (Mt 28,18).
Por vezes, a nossa acção
pastoral e as nossas reacções diante da vida e dos problemas fazem pensar que
Jesus foi mesmo embora, ou pelo menos, assim pensamos ou nos comportamos. Agimos
como se a vida do mundo ou da Igreja dependessem de nós e temos pouco em conta
o essencial daquilo que o Senhor nos ordenou. Preocupamo-nos em manter as
mesmas estruturas de sempre, somos saudosistas, pouco criativos, temos medo do
futuro e da mudança. E, entretanto, o mundo não pára e vemos o comboio a
passar. Nós vivemos na expectativa do regresso de Cristo, da sua Parusia. Mas
vivemos tantas vezes ancorados na Idade Média ou em Trento. Fixamo-nos na
segunda parte do mandamento de Cristo “baptizando”, mas esquecemos a primeira e
a terceira que dizem exactamente o mesmo: “ide e ensinai todas as nações (…)
ensinando-as a cumprir tudo o que vos mandei”. Em São Mateus, estas são as
últimas palavras de Jesus sobre a terra. Portanto, ensinar antes e depois. E a preciosíssima
e pacificadora última linha do evangelho é: “Eu estou sempre convosco até ao
fim dos tempos” (Mt 28,20).
P. Pablo Lima
In Notícias de Viana (1939),
21 de Maio de 2020, p. 7.
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