17 de
Maio de 2020
Act 8,5-8.14-17; Sal 65 (66); 1 Pd 3,15-18;
Jo 14,15-21
A expressão é de São Paulo VI.
Referindo-se à redescoberta da presença e centralidade da acção do Espírito
Santo na vida da Igreja, na sequência do Concílio Vaticano II, afirmou que
“vivemos um tempo privilegiado do Espírito” (EN 75). No entanto, em termos
gerais, afirmava o santo fundador da nossa diocese, “o Espírito Santo é o
Ilustre Desconhecido dos cristãos”.
A sua acção é discreta; no
entanto, toda a intervenção de Deus no mundo e tudo na vida da Igreja ocorre
hoje pela acção do Espírito Santo. Deus Pai e Jesus Cristo agem sempre através
do Espírito Santo. De facto, Jesus é Cristo, isto é, Messias,
ou seja, Ungido pelo Espírito Santo. Por isso, com palavras
lindíssimas, Santo Ireneu[1] se refere ao Verbo e ao Espírito Santo como
sendo “as mãos de Deus”. Mas a liturgia ensina que o Espírito Santo é digitus
paternae dexterae[2], isto é, o dedo da mão direita do Pai. Esse
mesmo dedo que, delicadamente, toca o dedo de Adão na Capela Sistina.
É por isso que, ao despedir-se,
Jesus confia os Apóstolos à guarda e inspiração do Espírito Santo. No longo
“testamento de Jesus” (Jo 13-17), ditado na última ceia, promete nada mais e
nada menos do que cinco vezes o envio do Espírito Santo. Neste Domingo,
escutamos a primeira dessas promessas (Jo 14,15-21). Assim, estas duas últimas
semanas de Páscoa são como que um “advento do Pentecostes”. São um tempo
pedagógico que a liturgia nos concede para intensificar a nossa oração e a
nossa consciência, a nossa invocação de vinda ao Espírito de Deus. Este ano, a
solene vigília do Espírito Santo terá um sabor especial porque será a noite da
reabertura das nossas Igrejas à Eucaristia comunitária. Não será oportuno,
então, enriquecer essa noite com uma Liturgia da Palavra mais rica (o
leccionário oferece três alternativas à primeira leitura…), com duas leituras
do Antigo Testamento, a Epístola e o Evangelho? E, antes do Aleluia, entronizar
solenemente (e, porventura, benzer com uma parte do Precónio) o Círio Pascal?
Jesus chama ao Espírito Santo
“Paráclito”. Lamentavelmente traduz-se por vezes “paráclito” por advogado, mas
esta é uma opção infeliz. No tempo de Jesus, esta função não existia e o
“paráclito” não era apenas uma figura jurídica de auxílio ou defesa. O termo
vem do verbo grego kaléo, “chamar” e do prefixo pará, “ao lado”.
Portanto, trata-se de “chamar para o lado”, chamar para junto de si. O Espírito
Santo é Aquele que acompanha, que se senta ao lado, que ajuda, que consola
(etimologicamente vem de cum-solis, aquele que visita o que está só).
Mas Jesus diz mais: esclarece que se trata de “outro Paráclito”,
porque o primeiro Paráclito é ele mesmo (1 Jo 2,1). Portanto o Espírito Santo
faz hoje para nós aquilo que Jesus fez para os Apóstolos. De facto, é Ele quem
torna presente Deus neste mundo. É Ele quem eucaristiza o pão e o vinho.
Precisamente, chama-se eplicese a oração de abertura da consagração,
acompanhada das mãos estendidas sobre os dons do Altar. Vem de Epi+kaléo:
chamar para cima, in-vocar, pedir que venha sobre… nós, a humanidade, a
Igreja. “Não vos deixarei órfãos”, diz Jesus, “voltarei”.
P. Pablo Lima
In Notícias de Viana (1938),
14 de Maio de 2020, p. 7.
[1] Santo
Ireneu, Demonstratio Predicationis Apostolicae 11: SC 62,48-49.
[2] Hino das
II Vésperas do Pentecostes.
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